domingo, 16 de outubro de 2011

Arronches – Lembrou o poeta e escritor Manuel da Fonseca

Numa iniciativa da Cooperativa Trabalho e Progresso de Arronches, realizou-se na tarde do passado sábado dia 15 de Outubro, no salão da Cooperativa uma sessão pública de evocação do centenário do nascimento do poeta e escritor alentejano Manuel da Fonseca, falecido a 11 de Março de 1993.

A sessão teve início com a intervenção do Dr. Diogo Júlio Serra evocou a figura de Manuel da Fonseca e recordou a sua vinda a Arronches para apadrinhar a futura biblioteca municipal e efectuar uma conferência sobre o Alentejo na Escola Básica.

O Professor Daniel Balbino fez uma pequena introdução sobre a obra literária de Manuel da Fonseca, referindo o seu imenso contributo para dar a conhecer a cultura do povo Alentejano, denunciando ao mesmo tempo as injustiças sociais e a luta pela liberdade sempre presentes na sua obra.
Por último surpreendeu a assistência com a mostra de algumas raridades bibliográficas e fotografias do escritor aquando da sua passagem por Arronches.

O Tenente-coronel Matos Serra, com a mestria e doçura que lhe é conhecida, viajou pela obra do poeta e leu alguns poemas, do homem que teve o privilégio de conhecer de perto.
Terminou de forma emotiva a dizer a poesia “O Maltês”.

Esta Sessão evocativa do Nascimento de Manuel da Fonseca contou ainda com a presença dos Presidentes das Juntas de Freguesia de Assunção e Assumar.

De referir que o escritor Manuel da Fonseca esteve em Arronches em 4 de Abril de 1989, a convite do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Arronches, para apadrinhar a Comissão Instaladora da Biblioteca Municipal e proferir uma conferência na Escola Básica Integrada, sobre o Alentejo.

A Comissão Instaladora da Biblioteca, então empossada, era constituída pela Dra Ana Venâncio; Professor Daniel Balbino; Professora Emília Costa; Engº Fernando Santos, à altura ainda estudante.


Em Cerro Maior nasci...

Depois, quando as forças deram
para andar, desci ao largo.
Depois, tomei os caminhos
Que havia e mais outros que
Depois desses eu sabia

E tanto já me afastei
Dos caminhos que fizeram,
Que de vós todos perdido
vou descobrindo esses outros
Caminhos que só eu sei.

Veio o guarda com a lei
No cano das carabinas.

Cercaram-me num montado;
puseram joelho em terra;
gritaram que me rendesse
à lei dos caminhos feitos.
Mas eu olhei-os de longe,
tão distante e tão de longe,
o rosto apenas virado,
que só vi em meu redor
dez pobres ajoelhados
perante mim, seu senhor.

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado
entre o largo da vila
entre dez guardas armados;
- mais temido e mais armado
que o deus a que todos rezam.

- Que nunca mulher alguma
se rendeu mais a um homem
que a moça do rosto claro
ao cruzar os olhos pretos
com o meu olhar de rei!

...E vendo que eu lhes fugia
assim de altiva maneira
à sua lei decorada,
lá,
longe do sol e da vida,
no fundo duma cadeia,
cheios de raiva me bateram.

Inanimado,
tombei por fim a um canto.

E enquanto eles redobravam
sobre o meu corpo tombado,
adormecido
eu descansava
de tão longa caminhada!...

Manuel da Fonseca



















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