quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O possível monumento funerário romano que Arronches ignorou


Na sequência de uma visita ao Museo Nacional de Arte Romano de Mérida, a pretexto de rever In situ, uma importante peça arqueológica encontrada em Arronches, integrada na exposição que ali decorria, e que atualmente percorre importantes museus arqueológicos, embora enquanto esteve depositada e exposta no Centro Cultural de Arronches tenha sido praticamente ignorada por quase todos os arronchenses, voltei a recordar uns quantos blocos de granito existentes no concelho de Arronches e dispersos por diversos locais, possivelmente provenientes de um antigo monumento funerário escalonado (com degraus) romano.

Embora rico em vestígios arqueológicos da ocupação romana, com diversos achados fruto do acaso aquando de trabalhos agrícolas tais como o arar dos campos ou abertura de covas para plantação de oliveiras, os dados disponíveis são escassos, com excepção do trabalho desenvolvido por Isabel Pinto, no ano de 1998, e enquadrado num projeto de Estudo do Povoamento Rural Romano, assim como com a realização da primeira campanha de escavações numa villa romana, situada a noroeste do concelho, Villa romana do Monte da Capela, na freguesia de Mosteiros.

Com a extinção do então Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal de Arronches, o projeto de estudo do Povoamento Rural Romano, assim as escavações foram interrompidas, com os materiais encontrados nas primeiras campanhas a serem enviados para depósito no Crato.

Mas voltando às peças granito que hoje podem ser vistas a integrar a estrutura de um moinho de água, e outras no adro da Igreja Matriz de Nossa senhora Graça, e ainda outras duas daqui levadas para junto da antiga ermida de S. Bento em Mosteiros, e entretanto desaparecidas do local, mas dado o seu tamanho e peso, é possível que a JF. de Mosteiros saiba para onde foram deslocadas, dadas as suas semelhanças e quantidade poder-se-ia estar na presença de um monumento escalonado funerário romano, semelhante ao  de e Zósimo, hoje exposto no Museu de Mérida, que tenha sido desmontado na zona dos montes da Capela, ou Nave do Grou, na freguesia de Mosteiros, locais de onde alguns residentes afirmam terem sido levados materiais semelhantes.

No caso de Mérida em 1979, e com obejetivo de retirar escombros que ali tinham sido acumulados provenientes de escavações anteriores, ao rebaixar-se uma zona perto da estrada que dá acesso ao Teatro Romano, encontrou-se junto a outras sepulturas, e praticamente intato este peculiar monumento funerário escalonado com uma inscrição dedicada a Gneo Zosimo.

A inscrição diz que é “consagrado aos deuses Manes de Gneo Zósimo, benfeitor da Legião VII Gémina Pía Felíz, itálico de nação, com vinte anos de serviço; viveu trinta e sete anos, sete meses e quarenta e oito dias. Junia Vera dedicou isto ao seu esposo muito bondoso e casto. Aqui jaz. Que a terra te seja leve”.

Os antigos romanos pensavam que a morte era apenas uma mudança na forma de vida e para que este trânsito para a nova existência se processa-se, tinha que se dada sepultura ao defunto, acompanhando-o de uma serie de ritos funerários. Se tal não era feito, a alma do morto vagueava errante, sem morada, provocando desgraças entre os vivos e assustando-os com as suas aparições noturnas.  

O ritual funerário romano começava na casa do falecido, com a família toda a acompanhar a pessoa que estava prestes a morrer para lhe dar o ultimo beijo. Desta forma e por mais algum tempo retinham-lhe a alma, que se lhe escapava pela boca. Depois de falecer, fechavam-lhe os olhos e chamavam três vezes pelo falecido de forma a comprovarem a sua morte. Depois era perfumado com unguentos (especiarias), e vestido, se bem que a lei proibia os luxos nos funerais, podiam por ao defunto as coroas que tivesse ganho em vida. Também deixavam junto ao cadáver uma moeda para pagar ao barqueiro Caronte, quem transportava a alma num barco através da lagoa Estigia até chegar ao reino dos mortos.
Bibliografia:
-Arqueologia da Antiguidade na Península Ibérica – Porto –ADECAP -2000
-Ritos funerários Romanos – Século II - Museu Nacional de Arte Romano de Mérida
Fotos: Emílio Moitas 






Sem comentários:

Enviar um comentário